Era o inverno do tempo de dentro.
Um frio discreto percorria a casa, mas o calor morava nos cantos invisíveis: nas memórias que repousavam sobre os móveis, no cheiro limpo do ar quando tudo se aquieta, no chão que segurava o corpo e o espírito.
Era ali, no silêncio primeiro, que tudo começava.
Um silêncio que não era ausência, mas presença.
Pelos cômodos, a casa parecia respirar devagar.
No ar flutuava o sopro do Abrigo Ancestral — o chão vivo e invisível, o solo que sempre esteve ali, guardando as raízes do que somos. Ele sustentava sem pedir reconhecimento. Era a base oculta da história, o útero da morada. E quem se deitava sobre ele, sentia: aqui mora o começo de tudo.
Entre as paredes, o Jardim Íntimo florescia na sombra. Era um jardim só visto por quem sabia olhar devagar. As pétalas discretas, o perfume leve, quase um segredo guardado pelo vento. Ali, a beleza não se exibia: envolvia. O Jardim Íntimo era o toque da contemplação, o gesto manso da natureza dentro do lar.
No espaço onde o tempo parece parar, o Canto da Casa acolhia o instante. Era o refúgio da memória e do agora. Ali, o ar tinha cheiro de madeira limpa e ramos secos; o silêncio tinha forma de abraço. No Canto da Casa, tudo repousava. Era ali que a alma descobria: onde a calma reside, a vida floresce.
E então vinha ela: a Brisa de Dentro.
Tão leve que parecia vir do próprio respirar da casa. Era o aroma do silêncio quando ninguém fala, mas tudo se sente. O ar límpido que passava pelas janelas entreabertas, o perfume sutil do chá branco, da madeira clara, do cuidado invisível. Na presença da Brisa de Dentro, o corpo encontrava paz — era o silêncio que fazia a alma repousar.
O inverno permanecia do lado de fora, mas dentro da casa o começo já germinava.
O silêncio, agora, não era só o que faltava ser dito.
Era o que sustentava o que viria.